Domingo de Páscoa

 

A palavra Páscoa vem do hebreu Peseach e significa “passagem”. Era vivamente comemorada pelos judeus do Antigo Testamento.

A Páscoa que eles comemoram é a passagem do mar Vermelho, que ocorreu muitos anos antes de Cristo, quando Moisés conduziu o povo hebreu para fora do Egito, onde era escravo. Chegando às margens do Mar Vermelho, os judeus, perseguidos pelos exércitos do faraó teriam de atravessá-lo às pressas. Guiado por Deus, Moisés levantou seu bastão e as ondas se abriram, formando duas paredes de água, que ladeavam um corredor enxuto, por onde o povo passou. Jesus também festejava a Páscoa. Foi o que Ele fez ao cear com seus discípulos.

Condenado à morte na cruz e sepultado, ressuscitou três dias após, num domingo, logo depois da Páscoa judaica. A ressurreição de Jesus Cristo é o ponto central e mais importante da fé cristã. Através da sua ressurreição, Jesus prova que a morte não é o fim e que Ele é, verdadeiramente, o Filho de Deus. O temor dos discípulos em razão da morte de Jesus na Sexta-Feira transforma-se em esperança e júbilo. É a partir deste momento que eles adquirem força para continuar anunciando a mensagem do Senhor. São celebradas missas festivas durante todo o domingo.

Prof. Felipe Aquino

 

Sábado santo – Vigília Pascal

Assim como a sexta feira da Paixão, o sábado santo é considerado um dia a-litúrgico, isto é, um dia no qual não se celebra a eucaristia. Na Igreja antiga era um dia de rigoroso jejum que deveria facilitar a direcionar os pensamentos dos fiéis ao fato de Jesus “morto e sepultado”. Para quem reza a Liturgia das Horas, o Ofício das Leituras deste dia nos oferece uma leitura de um autor desconhecido do IV século, leitura de singular beleza. Reproduzimos um pequeno trecho abaixo:

“O que aconteceu? Hoje sobre a terra reina um grande silêncio, grande silêncio e solidão. Grande silêncio porque o Rei dorme: a terra permaneceu desencorajada, e calou-se, porque Deus feito carne adormeceu e acordou aqueles que há séculos dormiam. Deus morreu na carne e desceu para sacudir o reino dos infernos. Certamente ele vai procurar o primeiro pai, como a ovelha perdida. Ele quer descer para visitar aqueles que jazem nas trevas e na sombra da morte. Deus e o seu Filho vão libertar dos sofrimentos Adão e Eva, que se encontram prisioneiros. O Senhor entrou para junto deles levando as armas vitoriosas da cruz. Apenas Adão o viu, o progenitor, batendo em sue peito pela maravilha, gritou para todos dizendo: “Esteja com todos, o meu Senhor”. E Cristo respondendo disse para Adão: “E com o teu espírito”. E, tomando-o pela mão, o levantou, dizendo: “Acorda, tu que dormes e ressurge dos mortos, e Cristo te iluminará”.

À noite, toda a comunidade se reúne para a grande Vigília Pascal. A liturgia da vigília pode ser dividida em quatro partes: Liturgia da luz; Liturgia da Palavra; Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística.

A liturgia da luz começa, quando é possível, do lado de fora da Igreja: acende-se uma fogueira em torno da qual se reúnem os fieis. Diante dessa fogueira, abençoada pelo presidente da celebração, acende-se o círio pascal. O acender desta vela reflete um costume muito antigo de se acenderem muitas luzes (velas) nesta noite santa. O próprio texto da Proclamação da Páscoa enfatiza a importância desses gestos litúrgicos referentes à luz do círio nesse momento ritual:

“O círio que acendeu as nossas velas possa esta noite toda fulgurar; misture sua luz à das estrelas, cintile quando o dia despontar. Que ele possa agradar-vos como o Filho, que triunfou da morte e vence o mal: Deus, que a todos acende no seu brilho, e um dia voltará, sol triunfal”. (Pregão Pascal)

A procissão que ocorre após o acendimento do círio e da aclamação “eis a luz de Cristo!” evoca o novo êxodo: assim como o próprio Deus guiava seu povo à noite como coluna de fogo (cf. Ex 13, 21), o círio pascal – a nova coluna de fogo – guia seu povo até a libertação operada pela ressurreição do Cristo Senhor.

Após o canto do pregão pascal tem início a liturgia da Palavra. Nas várias leituras é retomada a história da salvação: Deus, desde os primórdios, tinha em mente a salvação de todo o gênero humano. Salvação realizada de uma vez por todas na Ressurreição de Jesus e atualizada para nós no momento da celebração litúrgica. Grande destaque aos cantos do Glória e do Aleluia: eu possam visibilizar a alegria da Ressurreição do Senhor

Em seguida, caso haja candidatos, tem lugar a liturgia batismal. Os temas da luz, da abertura do mar, da libertação do Egito, e mesmo o da Ressurreição, encontram sua realização mais densa na celebração dos sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Confirmação e Eucaristia. São como o momento ápice da iniciação cristã.

Celebrar a vigília Pascal é fazer de modo particular a experiência do Ressuscitado. É experimentar que nessa noite santa, Cristo é o verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo; cordeiro que ao morrer, destrói nossa morte e ao ressurgir nos dá a vida (cf. Prefácio da Páscoa I).
 

Sábado Santo "Exsultet"

O "Exsultet", também conhecido como "Precônio Pascal", significa o anúncio, o pregão da Páscoa.

Ele é um canto de louvor que se entoa diante do Círio Pascal. Liturgicamente, esta vela representa o sacrifício de Cristo, portanto, é o agradecimento pelo sacrífico que não é somente uma 'morte', mas um sacrifício vivificante, pois produz a vida.

A Páscoa é isso: a leitura, a narração e a proclamação das maravilhas de Deus na história de cada um, para assim, poder enxergar o dom invisível de Deus no nosso hoje, no hoje da Sua Santa Igreja e no hoje das nossas próprias vidas.

Precônio Pascal

Exultet iam angelica turba caelorum:
exultent divina mysteria: 
et pro tanti Regis victoria tuba insonet salutaris.

Gaudeat et tellus tantis irradiata fulgoribus:
et, aeterni Regis splendore illustrata, 
totius orbis se sentiat amisisse caliginem.

Laetetur et mater Ecclesia,
tanti luminis adornata fulgoribus: 
et magnis populorum vocibus haec aula resultet.

Quapropter astantes vos, fratres carissimi,
ad tam miram huius sancti luminis claritatem, una mecum, quaeso, 
Dei omnipotentis misericordiam invocate. 
Ut, qui me non meis meritis 
intra Levitarum numerum dignatus est aggregare, 
luminis sui claritatem infundens, 
cerei huius laudem implere perficiat.

V. Dominus vobiscum.
R. Et cum spiritu tuo. 
V. Sursum corda. 
R. Habemus ad Dominum. 
V. Gratias agamus Domino Deo nostro. 
R. Dignum et iustum est.

Vere dignum et iustum est, invisibilem Deum Patrem omnipotentem Filiumque eius unigenitum, Dominum nostrum Iesum Christum, toto cordis ac mentis affectu et vocis ministerio personare.

Qui pro nobis aeterno Patri Adae debitum solvit,
et veteris piaculi cautionem pio cruore detersit.

Haec sunt enim festa paschalia,
in quibus verus ille Agnus occiditur, 
cuius sanguine postes fidelium consecrantur.

Haec nox est,
in qua primum patres nostros, filios Israel eductos de Aegypto, Mare Rubrum sicco vestigio transire fecisti.

Haec igitur nox est,
quae peccatorum tenebras columnae illuminatione purgavit.

Haec nox est,
quae hodie per universum mundum in Christo credentes, 
a vitiis saeculi et caligine peccatorum segregatos, 
reddit gratiae, sociat sanctitati.

Haec nox est,
in qua, destructis vinculis mortis, 
Christus ab inferis victor ascendit.

Nihil enim nobis nasci profuit,
nisi redimi profuisset. 
O mira circa nos tuae pietatis dignatio! 
O inaestimabilis dilectio caritatis: 
ut servum redimeres, Filium tradidisti!

O certe necessarium Adae peccatum,
quod Christi morte deletum est! 
O felix culpa, quae talem ac tantum meruit habere Redemptorem!

O vere beata nox,
quae sola meruit scire tempus et horam, 
in qua Christus ab inferis resurrexit!

Haec nox est, de qua scriptum est:
Et nox sicut dies illuminabitur: 
et nox illuminatio mea in deliciis meis.

Huius igitur sanctificatio noctis fugat scelera, culpas lavat:
et reddit innocentiam lapsis 
et maestis laetitiam. 
Fugat odia, concordiam parat 
et curvat imperia.

In huius igitur noctis gratia, suscipe, sancte Pater,
laudis huius sacrificium vespertinum, 
quod tibi in hac cerei oblatione sollemni, 
per ministrorum manus de operibus apum, sacrosancta reddit Ecclesia.

Sed iam columnae huius praeconia novimus, quam in honorem Dei rutilans ignis accendit. 
Qui, licet sit divisus in partes, mutuati tamen luminis detrimenta non novit.

Alitur enim liquantibus ceris,
quas in substantiam pretiosae huius lampadis apis mater eduxit.

O vere beata nox,
in qua terrenis caelestia, humanis divina iunguntur!

Oramus ergo te, Domine,
ut cereus iste in honorem tui nominis consecratus, ad noctis huius caliginem destruendam, indeficiens perseveret. 
Et in odorem suavitatis acceptus, 
supernis luminaribus misceatur.

Flammas eius lucifer matutinus inveniat
Ille, inquam, lucifer, qui nescit occasum 
Christus Filius tuus, 
qui, regressus ab inferis, 
humano generi serenus illuxit, 
et vivit et regnat in saecula saeculorum. 
Amen.

Exulte de alegria a multidão dos Anjos,
exultem as assembleias celestes, ressoem hinos de glória, para anunciar o triunfo de tão grande Rei.

Rejubile também a terra, inundada por tão grande claridade, 
porque a luz de Cristo, o Rei eterno, 
dissipa as trevas de todo o mundo.

Alegre-se a Igreja, nossa mãe,
adornada com os fulgores de tão grande luz, 
e ressoem neste templo as aclamações do povo de Deus.

E vós, irmãos caríssimos,
aqui reunidos para celebrar o esplendor admirável desta luz, 
invocai comigo a misericórdia de Deus omnipotente, 
para que, tendo-Se Ele dignado, sem mérito algum da minha parte, 
admitir-me no número dos seus ministros, 
infunda em mim a claridade da sua luz, 
para que possa celebrar dignamente os louvores deste círio.

V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós. 
V. Corações ao alto. 
R. O nosso coração está em Deus. 
V. Demos graças ao Senhor nosso Deus. 
R. É nosso dever, é nossa salvação.

É verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação
proclamar com todo o fervor da alma e toda a nossa voz 
os louvores de Deus invisível, Pai omnipotente, e do seu Filho Unigénito, Jesus Cristo, nosso Senhor.

 

Ele pagou por nós ao eterno Pai
a dívida por Adão contraída 
e com seu Sangue precioso 
apagou a condenação do antigo pecado.

Celebramos hoje as festas da Páscoa,
em que é imolado o verdadeiro Cordeiro, 
cujo Sangue consagra as portas dos fiéis.

Esta é a noite,
em que libertastes do cativeiro do Egipto 
os filhos de Israel, nossos pais, 
e os fizestes atravessar a pé enxuto o Mar Vermelho.

Esta é a noite,
em que a coluna de fogo

dissipou as trevas do pecado.

Esta é a noite,
que liberta das trevas do pecado e da corrupção do mundo aqueles que hoje por toda a terra crêem em Cristo, 
noite que os restitui à graça 
e os reúne na comunhão dos Santos.

Esta é a noite,
em que Cristo, quebrando as cadeias da morte, 
Se levanta glorioso do túmulo.

De nada nos serviria ter nascido,
se não tivéssemos sido resgatados. 
Oh admirável condescendência da vossa graça! 
Oh incomparável predilecção do vosso amor! 
Para resgatar o escravo entregastes o Filho.

Oh necessário pecado de Adão,
que foi destruído pela morte de Cristo! 
Oh ditosa culpa, 
que nos mereceu tão grande Redentor!

Oh noite bendita,
única a ter conhecimento do tempo e da hora 
em que Cristo ressuscitou do sepulcro!

Esta é a noite, da qual está escrito:
A noite brilha como o dia 
e a escuridão é clara como a luz.

Esta noite santa afugenta os crimes, lava as culpas;
restitui a inocência aos pecadores, dá alegria aos tristes; 
derruba os poderosos, dissipa os ódios, 
estabelece a concórdia e a paz.

Nesta noite de graça,
aceitai, Pai santo, este sacrifício vespertino de louvor, 
que, na solene oblação deste círio, 
pelas mãos dos seus ministros Vós apresenta a santa Igreja.

Agora conhecemos o sinal glorioso desta coluna de cera,que uma chama de fogo acende em honra de Deus: 

esta chama que, ao repartir o seu esplendor, 

não diminui a sua luz; 
esta chama que se alimenta de cera, 

produzida pelo trabalho das abelhas, 
para formar este precioso luzeiro.

Oh noite ditosa,

em que o céu se une à terra, 
em que o homem se encontra com Deus!

Nós Vos pedimos, Senhor,
que este círio, consagrado ao vosso nome, 
arda incessantemente para dissipar as trevas da noite; 
e, subindo para Vós como suave perfume, 
junte a sua claridade à das estrelas do céu.

Que ele brilhe ainda quando se levantar o astro da manhã,aquele astro que não tem ocaso, 
Jesus Cristo vosso Filho, 
que, ressuscitando de entre os mortos, 
iluminou o género humano com a sua luz e a sua paz e vive glorioso pelos séculos dos séculos. 
Amen.

https://padrepauloricardo.org/aulas/sabado-santo-exsultet

Domingo de Páscoa

Com a reforma litúrgica, a Igreja entende valorizar a grande Vigília Pascal. A missa do Domingo de Páscoa deve ser percebida como um transbordar da alegria da Igreja pela ressurreição de seu Senhor. O missal romano em suas rubricas alerta que “a Missa da Vigília é a verdadeira Missa do domingo de Páscoa. Quem participa da Missa da noite pode comungar também na segunda Missa da Páscoa” (Missal Romano, Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor, n. 4), ou seja, não há a obrigação de se participar da missa do Domingo pela manhã para aqueles que participaram da Vigília Pascal. Quem, porém, quiser participar está livre para fazê-lo.

A liturgia da Palavra é muito rica: a ressurreição é o tema central. Na primeira leitura, tirada do livro dos Atos dos Apóstolos, Pedro nos coloca diante do testemunho sobre o Ressuscitado, testemunho ligado à intimidade com o Cristo (“Nós que comemos e bebemos com ele”), intimidade que se nos dá também a nós na eucaristia. O Salmo responsorial (117) evoca a nova criação em Cristo: “Este é o dia (o dia da Ressurreição) que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria!”.

São Paulo na segunda leitura fala da realidade nova do cristão: ele está na vida e, como tal, deve viver em Cristo ressuscitado. Logo após a leitura de Paulo há lugar a Sequência. Um cântico que tem a função de aumentar a solenidade e de dar vazão à alegria cristã pelo Senhor vivo. O Evangelho apresenta-nos a figura de Maria Madalena que vai a túmulo do Senhor logo pela manhã. Apesar da fé no ressuscitado, é interessante o pormenor que o evangelho de João nos traz: “Na verdade, [os discípulos] ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”. Pedagogia da fé: O Senhor sabe de nossas incongruências e quer nos conduzir à sua presença na medida em podemos segui-lo, na medida em que podemos trilhar os seus passos até a vida plena.
 

Prof. Gabriel Frade

https://www.nospassosdepaulo.com.br/2012/04/vigilia-pascal-domingo-de-pascoa.html