Formação - Mariologia


NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO
 

Pe. Eugênio A. Bisinoto, C.Ss.R.

Entre os muitos títulos marianos, nós, brasileiros, conhecemos um especial: Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. É uma das invocações mais difundidas no mundo atual. No Brasil, a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é muito popular. As novenas perpétuas são bastante concorridas e participadas onde são celebradas.Dom Aloísio Lorscheider, Arcebispo Emérito de Aparecida (SP), afirma:

"A devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está muito espalhada no Brasil. Deve-se isso, em grande parte, à ação dos Missionários Redentoristas. As quartas-feiras, dedicadas a um culto especial a essa devoção, são muito conhecidas em nosso país. São tantas as famílias que, felizmente, vêm à Mãe do Céu, sob o título de Perpétuo Socorro, confiar-se nas mãos daquela que tão bem cuidou de Jesus".
Com a chegada dos Missionários Redentoristas em 1893, no Brasil, o culto a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro expandiu-se rapidamente por todas as regiões brasileiras. O caro-chefe dessa propagação foram as novenas perpétuas. A difusão de cópias do quadro contribuiu bastante. Em certos lugares, é comum encontrar a tal imagem na sala de visita ou na sala da frente da casa das famílias.

O QUADRO DE NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO


O quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é bem antigo e representa a Virgem da Paixão com o Menino Jesus nos braços. Essa imagem mariana foi pintada para animar a esperança e a oração dos cristãos. Sua profunda mensagem espiritual transparece em sua beleza artistica.

IDADE DO QUADRO DE NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO


Os estudiosos pesquisaram a origem do quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e levantaram três hipóteses possíveis. Uma parte dos estudiosos defende a idéia de que o quadro veio de Constantinopla, no século X, quando os monges de São Basílio vieram reevangelizar a ilha de Creta, que é pequena ilha do Mar Egeu, ao sul da Grécia.
Outra parte afirma que o quadro foi pintado na própria ilha de Creta. Teria sido composto no século X ou XI, época de grande produção de ícones como meio de evangelização, depois dos bizantinos apoderarem da ilha e após mais de um século em domínio dos muçulmanos.
Existem também estudiosos que falam que o quadro foi pintando na ilha de Creta, no século XIV ou início do século XV, em momento de grande esplendor artístico, e num período em que esse lugar, desde 1204, estava sob domínio dos Venezianos. Para reanimar a fé cristã, serviam-se igualmente da pregação e dos ícones. Houve uma grande produção e divulgação dos ícones, dando origem ao estilo artístico véneto-cretense.

 

O QUE É UM ÍCONE MARIANO


O quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro constitui um admirável ícone oriental. Com termos de origem grega (“eikón”), que significa imagem, pintura ou quadro. Trata-se de uma pintura sagrada, feita em madeira, segundo técnicas e tradições seculares. Os ícones podem representar Jesus Cristo, a Virgem Maria, os Anjos ou os Santos. Obedecem a normas bem precisas sob o ponto de vista artístico e teológico.

Possuem como fundamento a encarnação do Verbo de Deus. A encarnação é o mistério cristão básico no qual a Igreja reconhece que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fez homem no seio da Virgem Santíssima por obra do Espírito Santo (Mt 1, 18-25;Lc 1, 26-38). Encarnando-se, o Filho de Deus tornou-se visível (Jô 1, 1-17; 6, 1-6). O ícone procura representar esse Deus divino e humano.
O ícone é uma espécie de sacramental, um sinal da graça, um auxílio para a vida espiritual dos cristãos. Assim como Jesus Cristo, Aquele que assume a história humana e torna-se a revelação concreta da Palavra de Deus, é a imagem de Deus invisível (Cl 1, 15; Heb 1,3), o ícone é a imagem artística e religiosa do Transcendente e Invisível, levando à oração e à meditação aqueles que o contemplam.

O SIGNIFICADO DO ÍCONE


No quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a Virgem Maria foi representada a meio corpo, segurando o Menino Jesus nos braços. Nele, tudo tem significado: as cores, as legendas, as atitudes e até os detalhes. Tem caracteres gregos com a abreviatura dos nomes das quatro figuras presentes, a Mãe de Deus, seu divino Filho e os arcanjos Gabriel e Miguel, que mostram os instrumentos da Paixão de Cristo: a cana com esponja, a lança, os cravos e a cruz.

O menino, assustado pela visão, lança-se nos braços da Mãe. A angústia de Jesus não é demonstrada pela expressão e sim, por suas atitudes. Ele agarra-se à mão que a Mãe lhe estende para confortá-lo e, no movimento, deixa escorregar a sandália do pé direito.
Os olhos de Maria, cheios de compaixão e ternura , voltam-se para quem a contempla, pronta para socorrê-los e ampara-los em qualquer momento, apelando para os homens evitarem o pecado, causa da morte de Jesus. A cor de ouro do fundo da pintura evoca valores permanentes, dando à moldura um caráter de eternidade.

 

QUEM PINTOU O QUADRO

 

O pintor do quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é desconhecido por nós. Não existe nenhuma assinatura do autor na pintura deste ícone mariano.
Em boa parte, os pintores de ícones são anônimos. Sabemos pouco sobre os pintores da obra iconográfica. Entre os poucos artistas conhecidos que pintaram ícones da Virgem da Paixão, os historiadores da arte sacra destacam André Rizo de Candia (1422-1499), da escola cretense.
De acordo com vários estudiosos, o quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro pertence a escola cretense. Pelos estudos atuais, ainda não podemos estabelecer com exatidão a data de sua confecção. Todavia, podemos afirmar, com bastante probabilidade, que seu autor era um monge de Creta ou de regiões vizinhas.
Na história da arte sagrada da Igreja, os iconógrafos, que eram aqueles que pintavam os ícones, ocuparam um lugar especial. Eram artistas piedosos, homens que estavam ligados à vida de fé e à tradição religiosa da comunidade cristã. Sempre compunham suas obras num clima de penitência e oração. O iconógrafo pintava o que era fruto da vida espiritual da comunidade.
Os iconógrafos, monges em geral, meditavam as verdades da fé e procuravam representar, em suas pinturas, o resultado de sua experiência religiosa. Deste modo, eles compartilhavam sua inspiração cristã com a comunidade eclesial.
Dentro desta situação iconográfica, o quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro deve ser concebido como fruto da oração. Trata-se de um ícone para ser meditado. Quando os devotos se colocam em atitude de oração diante dele, podem aprofundar o mistério e a verdade de fé que o quadro representa e descobrir melhor o seu valor espiritual. O seu autor o idealizou para ser contemplado e ajudar na meditação de todos aqueles que se aproximam deste ícone mariano.

 

A VIRGEM DA PAIXÃO

 

Dentro da classificação dos grupos temáticos dos ícones, o quadro de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro é caracterizado pelos estudiosos da arte sacra como Virgem da Paixão. Isso porque toda a sua composição e a sua mensagem exprimem a paixão de Jesus, o Redentor do homem. Nesta imagem observam-se os arcanjos com instrumentos da paixão, a agonia do Senhor, a postura defensiva do Menino e os rostos cobertos de tristeza e dor.
Comparando com os outros ícones da Virgem da Paixão, podemos depreender que o quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro apresenta elementos iconográficos próprios: as estrelas na fronte e não nos ombros; e a cor das roupas. Mesmo considerando esses aspectos típicos do quadro de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, quais os traços comuns e fundamentais das diversas imagens da Virgem da Paixão?
Os ícones da Virgem da Paixão costumam representar Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços e anjos de cada lado segurando os instrumentos da paixão de Jesus. Na cultura brasileira tal título assemelha-se ao de “Virgem das Dores”ou “Nossa Senhora das Dores”.
Nos ícones da Virgem da Paixão, é característica a presença dos instrumentos da paixão de Cristo, levados por anjos ou arcanjos, com uma inscrição latina ou grega na parte superior das figuras. Esse tipo de ícone retrata o movimento do Menino que vê os instrumentos da paixão, se assusta com eles, busca refúgio nas mãos ou nos braços da Mãe e deixa ver a planta de um dos pés. O Menino move bruscamente a perna ou deixa desprender uma sandália, que, por sua vez, fica presa por um só de seus cordões. A Mãe, que acolhe o Menino com ternura e compaixão, olha para frente como se estivesse contemplando os sofrimentos de seu divino Filho.
As imagens antigas da Virgem da Paixão são muito raras em comparação com os outros ícones. As que são atualmente conhecidas, que apresentam certa antiguidade, são cerca de cem imagens. De acordo com estudos feitos, este tipo de ícone mariano originou-se na ilha de Creta e nas regiões vizinhas e espalhou-se, sobretudo, a partir do século XIV. No Ocidente esta imagem difundiu-se muito em Veneza, na Itália.
O ícone da Virgem da Paixão salienta a centralidade salvífica da paixão de Cristo e também a bondade da Mãe de Deus, sempre pronta a atender as necessidades daqueles que a veneram.
O quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro traz belíssima e encantadora síntese mariológica em imagem. A Virgem Maria aparece como Mãe do Redentor, d'Aquele que ela acolhe nos braços, protege e acompanha ao longo da vida e indica aos devotos o Cristo, rodeado dos instrumentos da sua paixão e morte, logo quando criança. Ela é também a mãe dos redimidos, daqueles que seguem o caminho de Jesus.
O quadro recebeu um título popular: Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Nele a Mãe de Deus aparece olhando, com ternura e compaixão, para seus devotos, pronta para socorrê-los e ampará-los em qualquer momento. Em 1896, Charles de Foucauld já dizia: “Este título fica tão bem à Santíssima Virgem! Nós, seres humanos fracos e vacilantes, precisamos tanto de sua constante ajuda”. 

 

ROTEIRO DE ESTUDO MARIANO

 

Para estudar e aprofundar o tema, sugerimos os seguintes livros:
1. Pe. Eugênio Antônio Bisinoto. Quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro: um dos ícones mais conhecidos. Coleção “Cadernos Marianos”, Aparecida, Ed. Santuário e Academia Marial, 2004.
2. Pe. Antônio Schneider. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro: história, culto e devoção. Aparecida, Ed. Santuário, 1991
3. DICIONÁRIO MARIANO. Porto, Ed. Perpétuo Socorro, 1988 (Distribuído no Brasil pela Editora Santuário)
4. Pe. Ronaldo Pelaquin. Historia de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro em Pinturas. Aparecida, Ed. Santuário, 2002

 

fonte: https://www.saomiguelsd.com/doc/formacao/nossa_senhora_do_perpetuo_socorro.html