O dom da vida x Aborto

 

Objetivos

Que o catequizando compreenda que toda pessoa é dotada de dignidade, chamada a estar em convívio com Deus e com o próximo, por isso, nós cristãos devemos zelar, defender a vida, pois ela possui um valor inestimável, vemos na vida a imagem de Deus criada na terra.

 

Preparação para o encontro

Bíblias;

Colocar a Palavra de Deus, em destaque. Figuras da criação – homem –mulher. Figuras de pessoas em meio às flores, às paisagens, em reuniões festivas e alegres. Crianças brincando. (a felicidade do homem é o sonho de Deus; o pecado pessoal e social nos afasta desse ideal).

 

Acolhida

Oração Inicial: Ave-Maria

 

Jesus Cristo nos disse:

“O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10,10) “Eu sou o caminho a verdade e a vida.” (Jo 14,6)

 

Ver

Você sabe que Deus criou tudo o que existe, por Amor?

Você tem consciência que a vida de cada um de nós foi pensada e querida por nosso Criador?

Que você é único em todo o universo; que Deus te conhece e te ama pessoalmente?

Você sabe que cada pessoa criada, em todo o mundo, tem um lugar reservado junto de Deus, graças à Salvação que Jesus veio nos trazer?

Que todas as pessoas, não importa a sua condição, são iguais e têm a mesma dignidade diante de Deus?

Que até as pessoas que foram geradas no ventre da mãe, mas não chegaram a nascer neste mundo, já tinham e têm o seu lugar no coração de Deus?

 

O Dom da Vida/Aborto

Catecismo da Igreja Católica Colaboração com o aborto, 2272 / Cultura de vida e aborto, 2770 / Preceitos morais e aborto, 2271, 2274

Bíblia Salm 139,13-14 (Onisciência e onipresença divinas)/ Exo 20,13 “Não matarás.”/ Mat 25, 40 (Pequeninos) / Luc 17, 1-2 (escândalos com os pequeninos)

 

O Papa João Paulo II dirigiu um pensamento especial para a mulher que praticou o aborto.

“Um pensamento especial quero reservá-lo para vós, mulheres que recorreram ao aborto. A Igreja está à par dos numerosos motivos que poderiam ter influído sobre a vossa decisão e não duvida que em muitos casos se tratou de uma decisão difícil, talvez traumática. Provavelmente a ferida no vosso espírito ainda não está sarada. Na realidade, aquilo que aconteceu foi e permanece profundamente injusto. Mas não vos deixeis cair no desânimo, nem percais a esperança. Se não o fizestes ainda, abri-vos com humildade e confiança ao arrependimento: o Pai de toda a misericórdia espera para vos oferecer o seu perdão e a sua paz no sacramento da reconciliação. Dar-vos-eis conta de que nada está perdido e podereis pedir perdão também ao vosso filho que agora vive no Senhor. Ajudadas pelo conselho e pela solidariedade de pessoas amigas e competentes, podereis contar-vos, com o vosso doloroso testemunho, entre os mais eloqüentes defensores do direito de todos à vida. Através do vosso compromisso a favor da vida, coroado eventualmente com o nascimento de novos filhos e exercido através do acolhimento e atenção a quem está mais carente de solidariedade, sereis artífices de um novo modo de olhar a vida do homem”.

 

Iluminar

Palavra de Deus: Gn 1,26; At 5,29; CIC 362 – 1700 – 1929 – 2258 – 2270

Em Gn 1, 26 temos a revelação: No último dia da criação, disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1,26).

Então, Ele terminou Seu trabalho com um “toque pessoal”.

Deus formou o homem do pó e deu a ele vida, compartilhando de Seu próprio fôlego (Gênesis 2,7).

Desta forma, o homem é único dentre toda a criação de Deus, tendo tanto uma parte material (corpo) como uma imaterial (alma/espírito).

Em termos bem simples, ter a “imagem” e “semelhança” de Deus significa que fomos feitos para nos parecermos com Deus.

A imagem de Deus se refere à parte imaterial do homem. Ela separa o homem do mundo animal, e o encaixa na “dominação” que Deus pretendeu (Gênesis 1,28), e o capacita a ter comunhão com seu Criador.

A boa nova é que, quando Deus redime uma pessoa, Ele começa a restaurar a imagem original de Deus, criando “o novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Efésios 4,24).

No CIC nº 364, temos: “O corpo do homem participa da dignidade da “imagem de Deus”; ele é corpo humano precisamente porque é animado pela alma espiritual, e é a pessoa humana inteira que está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do Espírito”.

No CIC nº 366, temos: “A Igreja ensina que cada alma espiritual é diretamente criada por Deus – não é “produzida” pelos pais – e é imortal: ela não perece quando da separação do corpo na morte, e se unirá novamente ao corpo quando da ressurreição final”.

C) Nossa vida: solicitar que falem sobre a importância da vida de cada um.

 

Debate:

Mentiras sobre o Aborto (apostila)

Agir

Pensar na importância da minha vida, e a vida dos meus irmãos.

Lembrar que Deus criou a cada um de nós para que pudéssemos participar da vida eterna de Amor Paz e Alegria com Ele.

Vamos retribuir vivendo a nossa vida com a dignidade ensinada por Ele.

 

Celebrar

Dinâmica: A VIDA PROVÉM DE DEUS (COM ORAÇÃO)

Material:

- uma vela grande

- velas pequenas (uma para cada participante)

- ambiente silencioso, música ambiental.

 

Convide os participantes a ficarem ao redor ou próximos da vela grande acesa.

Todos devem ter em uma das mãos uma vela pequena apagada.

O animador faz uma pequena reflexão sobre a vida, podemos usar essas palavras: Fiquemos um momento em silêncio e vamos refletir sobre a vida: Deus nos criou por amor... Como eu tenho correspondido a esse Amor? Costumo reclamar da vida? Reconheço que todos os outros que me cercam (família, escola, Igreja...), também foram criados porque Deus os quis?

Vamos lembrar dos nossos relacionamentos, nossos sentimentos do dia-a-dia.

Coloquemos nossa mão (direita) sobre nosso coração… Vamos sentir em nossas mãos suas batidas…

“É a vida que pulsa dentro de nós e que por si só tem valor, por que nos foi dada por Deus.”

O animador convida a todos para acenderem, um a um, suas velas na vela grande pra simbolizar que a nossa vida (vela pequena) provém de Deus (vela grande).

Quando todas as velas estiverem acesas todos rezam juntos, esta oração:

 

Senhor, meu Deus, autor e defensor da vida!

Ajuda-me a valorizar a vida em toda a sua beleza e grandiosidade: o embrião no ventre de sua mãe, as crianças, os adolescentes e jovens, os adultos, anciãos e doentes.

Dá-me a graça da indignação contra todo atentado à vida.

Dá-me a coragem e a audácia de ser profeta da vida, optando, juntamente com vossa Igreja, na defesa do direito de todos à vida digna e plena de sentido.

Amém!

 

 


O ABORTO, UM PROBLEMA MORAL

 

ABORTO: O QUE É ?

O aborto é a interrupção da gravidez quando o feto ainda não é viável, isto é, não pode subsistir por si mesmo. Isto aconteceria só depois de 28 semanas. Ainda é bom saber que é o aborto provocado o que tem implicações morais, visto que se apresenta como ato voluntário com as seguintes indicações: aborto eugênico ou seletivo, terapêutico, sócio-econômico, falsamente ético (na situação do estupro), psicológico, infantil, profissional, estético, etc. 
Não se pode esquecer também que o aborto é um problema muito complexo, pois compreende vários aspectos: o social, o econômico, o político, o jurídico-legal, o familiar, o sexual, o científico.

 

PROBLEMA MORAL

Promover a discussão que põe em realce a questão do aborto como problema eminentemente moral, pois na divergência dos posicionamentos o que se coloca em confronto é a justificação dos valores e a tentativa de definir uma hierarquia de valores. A respeito desta tentativa afloram três posições bem distintas.

Os liberais radicais partem da afirmação de que é a liberdade e a autonomia o ponto de referência último para a opção moral. Neste caso, é a mulher que tem o direito de decidir se quer ou não ter um filho ou abortá-lo.

Os pragmáticos. Para eles, a melhor escolha moral forçosamente depende de como se comparam o bem, as conseqüências, as preferências, os interesses, os objetivos, os fins. Nas situações complicadas em que valores ou fins se encontram em conflito, há circunstâncias que podem justificar a realização do aborto como, por exemplo, o aborto terapêutico, a situação do estupro...

A posição da Igreja Católica, em contrapartida, está fundada no princípio da sacralidade da vida. A vida é compreendida como valor absoluto, inviolável e sagrado. A sacralidade da vida constitui um princípio supremo, ao qual todos os outros princípios (liberdade, autonomia, saúde, etc), como também as normas e regras devem estar subordinados.

Na visão cristã, é o próprio Deus que se proclama como senhor absoluto da vida humana, pela própria razão de que a pessoa é criada à sua imagem e semelhança. A dignidade da pessoa encontra seu verdadeiro fundamento e sentido nesta verdade.

Seu caráter sagrado e inviolável, em última instância, reflete a própria inviolabilidade do Criador. Se o valor da vida é portador desse caráter, nenhuma situação, mesmo moralmente conflitiva, nenhum motivo, nenhuma indicação, nenhum contexto, nenhuma autoridade, nada, em hipótese alguma, pode conter força e razão suficiente para justificar a violação do princípio. Desse modo, tudo o que possa ferir, manchar ou ofuscar a sua incondicionalidade é denunciado como ameaça, atentado, crime contra a vida.

 

POSIÇÃO DA IGREJA FRENTE AO ABORTO

Para aprofundar a posição oficial da Igreja, valeria a pena ler os textos: Declaração sobre o aborto provocado e os números 58-63 da Evangelium VitaeNo diálogo com os catequizandos fica como sugestão a reflexão sobre os seguintes valores:

A) Na perspectiva cristã, o embrião tem o valor próprio da pessoa humana;

B) O reconhecimento do direito de todo ser humano às mais elementares condições de vida e à própria vida;

C) A proteção deste direito a viver, sobretudo por parte daqueles que colaboram com o amor criador de Deus;

D) A defesa de uma idéia reta e responsável da maternidade e da paternidade;

E) O princípio ético do médico como aquele que protege e cuida da vida humana e nunca chega a ser seu destruidor;

F) A força da argumentação contra o aborto se deduz de nossa fé na dignidade de toda pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus e de nossa fé na vocação do homem à fraternidade universal por um amor, respeito e justiça mútuos;

G) A importância da sociedade como promotora da vida, criando condições econômicas, sociais, culturais para o desenvolvimento integral das pessoas.

Pe. Márcio Bolda da Silva- Professor de Teologia Moral no ITESC

 

 

Evangelium vitae

 

Ioannes Paulus PP. II

1995 03 25

Cap. III

Artigos 58-63

 

Obs.: No fim deste post encontra-se o índice completo com os links para a leitura e estudo de todo o documento.

 

« Vossos olhos contemplaram-me ainda em embrião » (Sal 139 138, 16): o crime abominável do aborto

58. Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente grave e abjurável. O Concílio Vaticano II define-o, juntamente com o infanticídio, « crime abominável ». Mas hoje, a percepção da sua gravidade vai-se obscurecendo progressivamente em muitas consciências. A aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei, é sinal eloquente de uma perigosíssima crise do sentido moral que se torna cada vez mais incapaz de distinguir o bem do mal, mesmo quando está em jogo o direito fundamental à vida. Diante de tão grave situação, impõe-se mais que nunca a coragem de olhar frontalmente a verdade e chamar as coisas pelo seu nome, sem ceder a compromissos com o que nos é mais cômodo, nem à tentação de auto-engano. A propósito disto, ressoa categórica a censura do Profeta: « Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que têm as trevas por luz e a luz por trevas » (Is 5, 20). Precisamente no caso do aborto, verifica-se a difusão de uma terminologia ambígua, como « interrupção da gravidez », que tende a esconder a verdadeira natureza dele e a atenuar a sua gravidade na opinião pública. Talvez este fenômeno linguístico seja já, em si mesmo, sintoma de um mal-estar das consciências. Mas nenhuma palavra basta para alterar a realidade das coisas: o aborto provocado é a morte deliberada e direta, independentemente da forma como venha realizada, de um ser humano na fase inicial da sua existência, que vai da concepção ao nascimento. A gravidade moral do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio e, particularmente, quando se consideram as circunstâncias específicas que o qualificam. A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil, inerme, e numa medida tal que o deixa privado inclusive daquela forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e do choro do recém-nascido. Está totalmente entregue à proteção e aos cuidados daquela que o traz no seio. E todavia, às vezes, é precisamente ela, a mãe, quem decide e pede a sua eliminação, ou até a provoca. É verdade que, muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um caráter dramático e doloroso: a decisão de se desfazer do fruto concebido não é tomada por razões puramente egoístas ou de comodidade, mas porque se quereriam salvaguardar alguns bens importantes como a própria saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Às vezes, temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas estas e outras razões semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente. 59. A decidirem a morte da criança ainda não nascida, a par da mãe, aparecem, com frequência, outras pessoas. Antes de mais, culpado pode ser o pai da criança, não apenas quando claramente constringe a mulher ao aborto, mas também quando favorece indiretamente tal decisão ao deixá-la sozinha com os problemas de uma gravidez: desse modo, a família fica mortalmente ferida e profanada na sua natureza de comunidade de amor e na sua vocação para ser « santuário da vida ». Nem se podem calar as solicitações que, às vezes, provêm do âmbito familiar mais alargado e dos amigos. A mulher, não raro, é sujeita a pressões tão fortes que se sente psicologicamente constrangida a ceder ao aborto: não há dúvida que, neste caso, a responsabilidade moral pesa particularmente sobre aqueles que direta ou indiretamente a forçaram a abortar. Responsáveis são também os médicos e restantes profissionais da saúde, sempre que põem ao serviço da morte a competência adquirida para promover a vida. Mas a responsabilidade cai ainda sobre os legisladores que promoveram e aprovaram leis abortistas, e sobre os administradores das estruturas clínicas onde se praticam os abortos, na medida em que a sua execução deles dependa. Uma responsabilidade geral, mas não menos grave, cabe a todos aqueles que favoreceram a difusão de uma mentalidade de permissivismo sexual e de menosprezo pela maternidade, como também àqueles que deveriam ter assegurado — e não o fizeram — válidas políticas familiares e sociais de apoio às famílias, especialmente às mais numerosas ou com particulares dificuldades econômicas e educativas. Não se pode subestimar, enfim, a vasta rede de cumplicidades, nela incluindo instituições internacionais, fundações e associações, que se batem sistematicamente pela legalização e difusão do aborto no mundo. Neste sentido, o aborto ultrapassa a responsabilidade dos indivíduos e o dano que lhes é causado, para assumir uma dimensão fortemente social: é uma ferida gravíssima infligida à sociedade e à sua cultura por aqueles que deveriam ser os seus construtores e defensores. Como escrevi na Carta às Famílias, « encontramo-nos defronte a uma enorme ameaça contra a vida, não apenas dos simples indivíduos, mas também de toda a civilização ». Achamo-nos perante algo que bem se pode definir uma « estrutura de pecado » contra a vida humana ainda não nascida. 60. Alguns tentam justificar o aborto, defendendo que o fruto da concepção, pelo menos até um certo número de dias, não pode ainda ser considerado uma vida humana pessoal. Na realidade, porém, « a partir do momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida que não é a do pai nem a da mãe, mas sim a de um novo ser humano que se desenvolve por conta própria. Nunca mais se tornaria humana, se não o fosse já desde então. A esta evidência de sempre (...) a ciência genética moderna fornece preciosas confirmações. Demonstrou que, desde o primeiro instante, se encontra fixado o programa daquilo que será este ser vivo: uma pessoa, esta pessoa individual, com as suas notas características já bem determinadas. Desde a fecundação, tem início a aventura de uma vida humana, cujas grandes capacidades, já presentes cada uma delas, apenas exigem tempo para se organizar e encontrar prontas a agir ». Não podendo a presença de uma alma espiritual ser assinalada através da observação de qualquer dado experimental, são as próprias conclusões da ciência sobre o embrião humano a fornecer « uma indicação valiosa para discernir racionalmente uma presença pessoal já a partir desta primeira aparição de uma vida humana: como poderia um indivíduo humano não ser uma pessoa humana? ». Aliás, o valor em jogo é tal que, sob o perfil moral, bastaria a simples probabilidade de encontrar-se em presença de uma pessoa para se justificar a mais categórica proibição de qualquer intervenção tendente a eliminar o embrião humano. Por isso mesmo, independentemente dos debates científicos e mesmo das afirmações filosóficas com os quais o Magistério não se empenhou expressamente, a Igreja sempre ensinou — e ensina — que tem de ser garantido ao fruto da geração humana, desde o primeiro instante da sua existência, o respeito incondicional que é moralmente devido ao ser humano na sua totalidade e unidade corporal e espiritual: « O ser humano deve ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde esse mesmo momento, devem-lhe ser reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais e primeiro de todos, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida ». 61. Os textos da Sagrada Escritura, que nunca falam do aborto voluntário e, por conseguinte, também não apresentam condenações diretas e específicas do mesmo, mostram pelo ser humano no seio materno uma consideração tal que exige, como lógica consequência, que se estenda também a ele o mandamento de Deus: « não matarás ». A vida humana é sagrada e inviolável em cada momento da sua existência, inclusive na fase inicial que precede o nascimento. Desde o seio materno, o homem pertence a Deus que tudo perscruta e conhece, que o forma e plasma com suas mãos, que o vê quando ainda é um pequeno embrião informe, e que nele entrevê o adulto de amanhã, cujos dias estão todos contados e cuja vocação está já escrita no « livro da vida » (cf. Sal 139 138, 1.13-16). Quando está ainda no seio materno — como testemunham numerosos textos bíblicos — já o homem é objeto muito pessoal da amorosa e paterna providência de Deus. A Tradição cristã — como justamente se realça na Declaração sobre esta matéria, emanada pela Congregação para a Doutrina da Fé — é clara e unânime, desde as suas origens até aos nossos dias, em classificar o aborto como desordem moral particularmente grave. A comunidade cristã, desde o seu primeiro confronto com o mundo greco-romano onde se praticava amplamente o aborto e o infanticídio, opôs-se radicalmente, com a sua doutrina e a sua praxe, aos costumes generalizados naquela sociedade, como o demonstra a já citada Didaké. Entre os escritores eclesiásticos da área linguística grega, Atenágoras recorda que os cristãos consideram homicidas as mulheres que recorrem a produtos abortivos, porque os filhos, apesar de estarem ainda no seio da mãe, « são já objeto dos cuidados da Providência divina ». Entre os latinos, Tertuliano afirma: « É um homicídio premeditado impedir de nascer; pouco importa que se suprima a alma já nascida ou que se faça desaparecer durante o tempo até ao nascer. É já um homem aquele que o será ». Ao longo da sua história já bimilenária, esta mesma doutrina foi constantemente ensinada pelos Padres da Igreja, pelos seus Pastores e Doutores. Mesmo as discussões de caráter científico e filosófico acerca do momento preciso da infusão da alma espiritual não incluíram nunca a mínima hesitação quanto à condenação moral do aborto. 62. O Magistério pontifício mais recente reafirmou, com grande vigor, esta doutrina comum. Em particular Pio XI, na encíclica Casti connubii rejeitou as alegadas justificações do aborto; Pio XII excluiu todo o aborto direto, isto é, qualquer até que vise diretamente destruir a vida humana ainda não nascida, « quer tal destruição seja pretendida como fim ou apenas como meio para o fim »; João XXIII corroborou que a vida humana é sagrada, porque « desde o seu despontar empenha diretamente a ação criadora de Deus ». O Concílio Vaticano II, como já foi recordado, condenou o aborto com grande severidade: « A vida deve, pois, ser salvaguardada com extrema solicitude, desde o primeiro momento da concepção; o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis ». A disciplina canônica da Igreja, desde os primeiros séculos, puniu com sanções penais aqueles que se manchavam com a culpa do aborto, e tal praxe, com penas mais ou menos graves, foi confirmada nos sucessivos períodos históricos. O Código de Direito Canônico de 1917, para o aborto, prescrevia a pena de excomunhão. Também a legislação canônica, há pouco renovada, continua nesta linha quando determina que « quem procurar o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae », isto é, automática. A excomunhão recai sobre todos aqueles que cometem este crime com conhecimento da pena, incluindo também cúmplices sem cujo contributo o aborto não se teria realizado: com uma sanção assim reiterada, a Igreja aponta este crime como um dos mais graves e perigosos, incitando, deste modo, quem o comete a ingressar diligentemente pela estrada da conversão. Na Igreja, de fato, a finalidade da pena de excomunhão é tornar plenamente consciente da gravidade de um determinado pecado e, consequentemente, favorecer a adequada conversão e penitência.Frente a semelhante unanimidade na tradição doutrinal e disciplinar da Igreja, Paulo VI pôde declarar que tal ensinamento não conheceu mudança e é imutável. Portanto, com a autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus Sucessores, em comunhão com os Bispos — que de várias e repetidas formas condenaram o aborto e que, na consulta referida anteriormente, apesar de dispersos pelo mundo, afirmaram unânime consenso sobre esta doutrina — declaro que o aborto decreto, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de um ser humano inocente. Tal doutrina está fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela Tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal.Nenhuma circunstância, nenhum fim, nenhuma lei no mundo poderá jamais tornar lícito um até que é intrinsecamente ilícito, porque contrário à Lei de Deus, inscrita no coração de cada homem, reconhecível pela própria razão, e proclamada pela Igreja. 63. A avaliação moral do aborto deve aplicar-se também às recentes formas de intervenção sobre embriões humanos, que, não obstante visarem objetivos em si legítimos, implicam inevitavelmente a sua morte. É o caso da experimentação sobre embriões, em crescente expansão no campo da pesquisa biomédica e legalmente admitida em alguns países. Se « devem ser consideradas lícitas as intervenções no embrião humano, sob a condição de que respeitem a vida e a integridade do embrião, não comportem para ele riscos desproporcionados, e sejam orientadas para a sua cura, para a melhoria das suas condições de saúde ou para a sua sobrevivência individual », impõe-se, pelo contrário, afirmar que o uso de embriões ou de fetos humanos como objeto de experimentação constitui um crime contra a sua dignidade de seres humanos, que têm direito ao mesmo respeito devido à criança já nascida e a qualquer pessoa. A mesma condenação moral vale para o sistema que desfruta os embriões e os fetos humanos ainda vivos — às vezes « produzidos » propositadamente para este fim através da fecundação in vitro — seja como « material biológico » à disposição, seja como fornecedores de órgãos ou de tecidos para transplante no tratamento de algumas doenças. Na realidade, o assassínio de criaturas humanas inocentes, ainda que com vantagem para outras, constitui um ato absolutamente inaceitável. Especial atenção há de ser reservada à avaliação moral das técnicas de diagnose pré-natal, que permitem individuar precocemente eventuais anomalias do nascituro. Com efeito, devido à complexidade dessas técnicas, a avaliação em causa deve fazer-se mais cuidadosa e articuladamente. Quando estão isentas de riscos desproporcionados para a criança e para a mãe, e se destinam a tornar possível uma terapia precoce ou ainda a favorecer uma serena e consciente aceitação do nascituro, estas técnicas são moralmente lícitas. Mas, dado que as possibilidade de cura antes do nascimento são hoje ainda reduzidas, acontece bastantes vezes que essas técnicas são postas ao serviço de uma mentalidade eugenista que aceita o aborto seletivo, para impedir o nascimento de crianças afetadas por tipos vários de anomalias. Semelhante mentalidade é ignominiosa e absolutamente reprovável, porque pretende medir o valor de uma vida humana apenas segundo parâmetros de « normalidade » e de bem-estar físico, abrindo assim a estrada à legitimação do infanticídio e da eutanásia. Na realidade, porém, a própria coragem e serenidade com que muitos irmãos nossos, afetados por graves deficiências, conduzem a sua existência quando são aceites e amados por nós, constituem um testemunho particularmente eficaz dos valores autênticos que qualificam a vida e a tornam, mesmo em condições difíceis, preciosa para o próprio e para os outros. A Igreja sente-se solidária com os cônjuges que, com grande ansiedade e sofrimento, aceitam acolher os seus filhos gravemente deficientes, tal como se sente grata a todas as famílias que, pela adoção, acolhem os que são abandonados pelos seus pais por causa de limitações ou doenças.

 

Ver também:

 ABORTO E EXCOMUNHÃO